domingo, 13 de fevereiro de 2011

3º Ano - Filosofia - 1º Trimestre

O que é ciência?

1 Características do conhecimento científico

- As ciências da natureza surgiram no século XVII: Galileu (física e astronomia);
- Pela história: descoberta do fogo, invenção da roda, variadas técnicas agrícolas, de pastoreio, de habitação ou vestimenta;
* antes da física: construção inteligente de habitação, flutuar embarcações, construção de palácios, aquedutos, sistemas de irrigação;
* antes da biologia: identificavam inúmeras doenças e seu tratamento;
* antes da química: oficinas de metalurgia e tingimento;
* antes da economia: os Estados já sabiam como administrar os bens públicos.
= através do conhecimento e da técnica, do bom senso, uso espontâneo da razão e da imaginação (ensaio e erro), dedução (em um argumento dedutivo correto a conclusão é inferida necessariamente das premissas, ou seja, o que está dito na conclusão é extraído das premissas, pois na verdade já está implícito nelas – ex. todo brasileiro é sul-americano; todo paulista é brasileiro; todo paulista é sul-americano) e indução (a indução por enumeração é uma argumentação pela qual, a partir de diversos dados singulares constatados, chegamos a proposições universais – ex. o cobre é condutor de eletricidade, e o ouro, e o ferro, e o zinco, e a prata também... logo, o metal (isto é, todo metal) é condutor de eletricidade).

= O que realmente mudou a partir do século XVII?
Forma de investigação mais rigorosa, conhecimento sistemático, preciso e com maior objetividade.


CIÊNCIA
SENSO COMUM
Objetividade[1]
Subjetividade/idiossincrasias[2]
Conhecimento Universal
Conhecimento Particular (tradição/crenças/fragmentado)
Afirmações Assistemáticas
Afirmações Sistemáticas
Verificação objetiva dos fenômenos
Percepção imediata, imprecisa e subjetiva da realidade
Formas mais elaboradas do saber
Visão de mundo precária e distorcida


= Os cientistas trabalham com: hipóteses testáveis, que podem ser submetidas à experimentação, de modo a serem confirmadas ou rejeitadas; a ciência é constituída por corpos de conhecimento organizado cujas investigações sistemáticas estão empiricamente fundamentadas pelo controle dos fatos;
- Depois de confirmadas, tornam-se enunciados gerais (leis): distingue e separa certas propriedades e descobre relações entre outras, unificando um grande número de fatos que pareciam díspares (ex. relação entre o orvalho da noite e as gotículas que aparecem na garrafa retirada da geladeira; descobrir que a respiração é uma forma de combustão; relacionar o movimento da Lua, as marés, as trajetórias de projéteis e a subida de líquidos em tubos delgados).
- Linguagem rigorosa: a ciência torna precisos seus conceitos, evitando ambigüidades; esse rigor aumenta com a aplicação da matemática, que transforma qualidades em quantidades e a utilização de instrumentos de medida. As ciências atingem a precisão da mecânica, mas permanece em todas elas o ideal da sistematização e da lógica rigorosa.


[1] A ciência é uma instituição social em que as atividades de cada cientista, como membro de uma comunidade intelectual, estão sujeitas à crítica dos demais.
[2] Maneira de ver, sentir, reagir, peculiar a cada pessoa. (É uma disposição do temperamento, da sensibilidade que faz com que um indivíduo sinta de modo especial e muito seu a influência de diversos agentes).

2 A
TEORIA DO CONHECIMENTO NA IDADE MODERNA
2.1 Racionalismo (René Descartes, 1596-1650 – Pai da Filosofia Moderna)
- A concepção racionalista: que se estende dos gregos até o final do século XVII afirma que a ciência é um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo como a matemática, portanto, capaz de provar a verdade necessária e universal de seus enunciados e resultados, sem deixar qualquer dúvida possível; uma ciência é a unidade sistemática de axiomas, postulados e definições que determinam a natureza e as propriedades de seu objeto e de demonstrações, que provam as relações de causalidade que regem o objeto investigado; o objeto científico é uma representação intelectual universal, necessária e verdadeira das coisas representadas e corresponde à própria realidade, porque esta é racional e inteligível em si mesma; as experiências científicas são realizadas apenas para verificar e confirmar demonstrações teóricas e não para produzir o conhecimento do objeto, pois este é conhecido exclusivamente pelo pensamento; o objeto científico é matemático, porque a realidade possui uma estrutura matemática, ou como disse Galileu, “o grande livro da Natureza está escrito em caracteres matemáticos”;
- Hipotético-dedutiva: definia o objeto e suas leis e disso deduzia propriedades, efeitos posteriores, previsões.

Principal representante: René Descartes (1596-1650);
Motivação: descontente com os erros e as ilusões dos sentidos, procura fundamento do verdadeiro conhecimento;
Método: dúvida (de tudo que lhe chega pelos sentidos: idéias das tradições);
Primeira verdade: se duvido, penso; se penso, existo (como ser pensante: sujeito ou consciência que é capaz de duvidar); “Penso, logo existo”;
Distinção: dois tipos de idéias

Claras e distintas
Confusas e duvidosas

Idéias gerais, não derivam do particular, se encontram no espírito, como instrumentos que Deus nos dotou para fundamentar a apreensão de outras verdades;
Idéias inatas, que não estão sujeitas a erros e que são o fundamento de toda a ciência;
Para conhecê-las, basta que nos voltemos para nós mesmos, por meio da reflexão;
Exemplos: Deus (perfeito e infinito – substância infinita), substância pensante (res cogitans) e matéria extensa (res extensa)



Ponto de partida: pensamento (como passar do pensamento para a matéria dos corpos?); podemos pensar a idéia de infinito – Deus: perfeição; para ser perfeito, Deus deve existir como ser; não nos engana; se nos faz ter idéias sobre o mundo, é porque o criou; a partir da idéia inata, podemos deduzir a idéia da existência da matéria dos corpos, ou seja, da matéria extensa;
A razão: não afeta e não é afetada pelos objetos; só lida com representações: imagens mentais, idéias ou conceitos que correspondem aos objetos exteriores;
Idéias: três tipos
- Adquiridas: formadas a partir da experiência; ex. estrelas, Sol, montanha, cidade;
- Artificiais: forjadas por nossa imaginação a partir das adquiridas e que não tem realidade fora da nossa mente; ex. Papai Noel (velhinho, barbas brancas, carrega saco de brinquedos...);
- Inatas: impressas por Deus em nossa alma; ex. idéias de perfeição, infinito, liberdade, etc.;
Método: deve assegurar que:
- As coisas sejam representadas corretamente, sem risco de erro;
- Haja controle de todas as etapas das operações intelectuais;
- Haja possibilidade de serem feitas deduções que lêem ao progresso do conhecimento;
= Crucial para o conhecimento filosófico a partir do século XVII;
= Modelo: ideal matemático, porque visa ao conhecimento completo, perfeito e inteiramente racional.

2.2 O Empirismo (Francis Bacon, 1561-1626; John Locke, 1632-1704; David Hume, 1711-1776)
 
- A concepção empirista: que vai da medicina grega e Aristóteles até o final do século XIX afirma que a ciência é uma interpretação dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções que, ao serem completadas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades e suas leis de funcionamento; a teoria científica resulta das observações e dos experimentos, de modo que a experiência não tem simplesmente o papel de verificar e confirmar conceitos, mas tem a função de produzi-los; eis porque, nesta concepção, sempre houve grande cuidado para estabelecer métodos experimentais rigorosos, pois deles dependiam a formulação da teoria e a definição da objetividade investigada;
- Hipotético-indutiva: apresentava suposições sobre o objeto, realiza observações e experimentos e chegavam à definição dos fatos, às suas leis, suas propriedades, seus efeitos posteriores e previsões.

Principal representante: John Locke (1632-1704)
Ponto principal: todas as idéias têm origem na experiência sensível; a partir dos dados da experiência que, por abstração, o entendimento ou intelecto, produz idéias;
Razão humana: folha em branco – sobre a qual os objetos vão deixar sua impressão sensível, a qual será elaborada, por meio de certos procedimentos mentais, em idéias particulares e idéias gerais; podemos observar os fenômenos, mas não suas causas e suas relações;
Idéias: provêm de duas fontes:
- Sensação: apreende impressões vindas do mundo externo;
- Reflexão: é o ato pelo qual o espírito conhece suas próprias operações;
= As idéias podem ser simples e complexas: se impõem à consciência na experiência sensível e são irredutíveis à análise; ao correlacionar idéias simples, o espírito constitui as idéias complexas.

Outro representante: David Hume (1711-1776)
- As relações não são observáveis, portanto não estão nos objetos. São modos que a natureza humana tem de passar de um termo a outro, de uma idéia particular a outra. E esses modos são frutos do hábito ou da crença; o que observamos é uma seqüência de eventos (água ferver a 100ºC, o Sol nascendo todos os dias), sem nexo causa; a única base para as idéias ditas gerais é a crença – do ponto de vista do entendimento – faz uma extensão ilegítima do conceito.
2.3 O Construtivismo
- A concepção construtivista: iniciada no século XX considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade; o cientista combina dois procedimentos – um, vindo do racionalismo e outro, vindo do empirismo – e a eles acrescenta um terceiro, vindo da idéia de conhecimento aproximativo e corrigível; como o racionalista, o cientista construtivista exige que o método lhe permita e lhe garanta estabelecer axiomas, postulados, definições e deduções sobre o objeto científico; como o empirista, o construtivista exige que a experimentação guie e modifique axiomas, postulados, definições e demonstrações; no entanto, porque considera o objeto uma construção lógico-intelectual e uma construção experimental feita em laboratório, o cientista não espera que seu trabalho apresente a realidade em si mesma, mas ofereça estrutura e modelos de funcionamento da realidade, explicando os fenômenos observados; não espera, portanto, apresentar uma verdade absoluta e sim uma verdade aproximada que pode ser corrigida, modificada, abandonada por outra mais adequada aos fenômenos; são três as exigências de seus ideais de cientificidade: a) que haja coerência (isto é, que não haja contradições) entre os princípios que orientam a teoria; b) que os modelos dos objetos (ou estruturas dos fenômenos) sejam construídos com base na observação e na experimentação; c) que os resultados obtidos possam não só alterar os modelos construídos, mas também alterar os próprios princípios da teoria, corrigindo-a.

2.4 O Positivismo (Augusto Comte, 1798-1857)
- Acreditava na superioridade da ciência e no seu poder de explicação dos fenômenos de maneira desprendida da religiosidade (extirpar os mitos, a religião, a metafísica e as crenças em geral); ele acreditava que a ciência deveria ser utilizada para organizar a ordem social (instaurar disciplina e ordem) através da Sociologia (física social, criada a partir do livro “Curso de Filosofia Positiva”, 1839); para García Morente, “o positivismo é o suicídio da filosofia”.



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